Convocatória de Comunicações

CONVOCATÓRIA : COLOQUIO INTERNACIONAL

« Circulação, fronteiras e cidades nas Guianas »

7 - 9 de novembro de 2018, Universidad de Guayana Francesa, Cayena

 

Convocatória de Comunicações

Após os trabalhos realizados por pesquisadores e profissionais nas últimas décadas, iniciativas recentes estão  renovando a reflexão sobre as mudanças nas fronteiras da Guiana Francesa, tanto na escala da Guiana Francesa quanto do Escudo Guianense (Blancodini P., 2010 ; Morel, Letniowska-Swiat, 2012 ; AUDeG, 2013 ; CAUE de Guyane, 2014 ; Carlin et al., 2014 ; Collomb & Mam Lam Fouk, 2016). Se a análise das fronteiras se concentrou durante muito tempo em seus interesses geopolíticos depois de numerosas disputas fronteiriças, incluindo a “ disputa” entre França e Brasil (Vidal de La Blache, 1901 ; Granger, 2011 ; Théry, 2015 ; Ferretti, 2014 ; Lézy, 2000) ou entre a Venezuela e a Guiana (de Vilhena Silva, 2017), os enfoques contemporâneos já não reduzem as fronteiras apenas a seu status de limite entre as entidades territoriais.

Podemos dizer que as fronteiras das Guianas, em particular as fluviais, têm um “alargador” (Agier, 2013) que as permite ser compreendidas como espaços de intercâmbio, margens ativas e geradoras de evoluções urbanas.

As áreas fronteiriças, que rotineiramente se estendem até postos fronteiriços internos, constituem áreas em transformação, onde interagem as estruturas socioespaciais antigas e as dinâmicas recentes do povoamento e desenvolvimento (das Chagas Martins et al., 2016). O objetivo desta conferência será questionar as transformações destes espaços fronteiriços desde a Amazônia até o Orinoco. A atenção se concentrará nos problemas das interações entre a circulação, as margens e as cidades nas Guianas, analisando estes três eixos:

Circulação e mobilidade

A mobilidade, e mais especificamente, a migração é um fator importante para compreender os espaços fronteiriços. As diferenças entre os níveis de vida, a exploração dos recursos naturais e as crises políticas geram fluxos populacionais com perfis variados que modificam as organizações econômicas, sociais e culturais desses espaços (Machado de Oliveira, 2009). O estado de Roraima no Brasil recebe imigrantes que fogem da crise venezuelana, passando pelo estado de Bolívar naquele país. A Guiana Francesa enfrenta a afluência de migrantes, incluindo haitianos, que passam pelo Suriname. as migrações relacionadas com a exploração  do ouro também criam uma geografia original, por uma nova fase da febre do ouro que cruza as Guianas, desde finais do século XIX (Péné-Annette, 2016). Somado a isso, a emergência econômica de certos territórios acentuam a dinâmica de polarização e contribui para o aumento dos fluxos migratórios transnacionais (Nicolas, 2016 ; Piantoni, 2016 ; Cambrézy, 2015).

Será necessário considerar o impacto das infraestruturas de transporte nestas mobilidades e na estruturação das zonas fronteiriças. A visão da “rodovia” como vetor de desenvolvimento vêm sendo questionada, por exemplo no caso da extensão da rodovia nacional (guiana) RN2 até a fronteira franco-brasileira (Boudoux d’Hautefeuille, 2014). Esta extensão é uma das etapas para a realização do projeto do corredor viário “Atlântico- Panamericano” (Théry, 2011). A construção de rodovias segue um eixo litorâneo desde o começo da década de 2000, e gera novas mobilidades que transformam as representações que os indivíduos têm das distâncias e dos locais mais afastados. Do mesmo modo,  é legítimo questionar o impacto da construção de rodovias ao largo de um eixo longitudinal que poderia competir com o rio, o eixo tradicional de intercâmbio das áreas fronteiriças.

Fronteiras e Margens

As fronteiras se definem como objetos geográficos, linhas separando dois sistemas territoriais contíguos identificados por seus próprios sistemas de normas culturais, jurídicas, sociais, políticas, etc (Reitel, 2004 ; Groupe Frontière, 2004). Estão animadas por dinâmicas relacionadas às idéias de frontier que expressa uma zonalidade e de border/boundary por exprimir linearidade (Beucher & Reghezza, 2017). Estas fronteiras estão também associadas a sistemas de controle que têm como objetivo proteger, tomar, filtrar e até mesmo proibir (Reitel, 2004). As fronteiras do Escudo guianês estão muitas vezes sob a porosidade e a permeabilidade (Calmont, 2007 ; Collomb, 2013), porque estas delimitações estão no coração das mobilidades relevantes.

O papel de interface das fronteiras contribui a uma variedade de trocas de bens, serviços e capitais. Quer seja pelo efeito de assimetria  ou pelo efeito polarizador das fronteiras fluviais , estes espaços constituem zonas de trânsito, catalisadores de atividades econômicas e margens territoriais. As circulações de bens e pessoas nestes espaços transnacionais se caracterizam por uma ambivalência entre o lícito e o ilícito. O sistema de controle associado é “mais ou menos explícito” (Reitel, 2004). onde as regras de trânsito variam e dependem de relações de poder que se modificam e são muitas vezes informais.

As especificidades das fronteiras guianenses  convidam a refletir sobre seu “alargamento” (Agier, 2013) e sobre a pertinência de sua percepção como margens (Prost, 2004) A “margem” expressa uma “ parte do espaço que, em uma dada escala, se localiza longe de um centro - em que este distanciamento seja econômico, político e/ou social - e que abre as outras realidades territoriais” (Depraz, 2017). Considerar estes espaços pelas margens permite interrogar, sob a marginalidade, o modo de vida das populações nos/dos espaços fronteiriços que participam da construção de territórios originais.

Setores econômicos e dinâmicas urbanas

Os fluxos formais e informais, constituem um dos motores da construção territorial em diferentes escalas. Estão animados por dinâmicas econômicas, visíveis e subterrâneas, que criam empregos, ingressos e atividades nas cidades (Péné-Annette, 2016). Esta economia contribui a um desenvolvimento urbano, já fortemente nutrido pelas dinâmicas demográficas. Por isso, as paisagens estão rapidamente transformadas pelo surgimento de novos setores urbanizados, de uma urbanização extensa, de instalações espontâneas, do desmonte e do desmatamento (Léobal, 2013 ; Piantoni, 2002). A co-habitação entre populações de diferentes origens cria também interações que transformam os modos de vida dentro da cidade. Gera solidariedades, fricções e também processos de hibridação interessantes a analisar.

Estão aparecendo novas formas urbanas, que permitem definir de novo os conceitos que geralmente utilizamos nos estudos urbanos (Topalov et al., 2010), como rurbanização, margens urbanas, pobreza urbana, habitações insalubres, natureza na cidade.... As relações entre os habitantes e o rio têm também que ser reconsideradas: em sua dimensão simbólica e cultural (Wantzen et al., 2016) , na integração do meio ambiente fluvial nas políticas públicas ( remodelação das bordas, infraestruturas, equipamentos de saneamento, etc…), nas prioridades de planejamento e desenvolvimento industrial ( Les Ateliers, 2016). A extensão urbana fica dificilmente controlada pelos poderes públicos, que têm que obter ferramentas para construir modos de governança adaptados (CAUE de Guyane, 2014).

Palavras-chave: Circulação; Setor econômico; rios, fronteira, margens, migrações, natureza na cidade, desenvolvimento urbano, Escudo guianense.

Calendário

Este Colóquio é destinado prioritariamente a pesquisadores e jovens pesquisadores em ciências sociais (geografia, economia, antropologia, sociologia, história, e ciências políticas). Os idiomas da conferência são francês, inglês e português.

Os resumos das comunicaçõesem duas línguas do simpósio (devem conter no máximo 200 palavras, e cinco palavras-chave), e devem ser submetidos até o dia 10 de julho de 2018.

Prazo prolongado para resumos: 25 de julho de 2018.

 

 

O envio dos resumos deve ser feito por meio do site oficial do evento: cfvg.sciencesconf.org.

Os resumos serão examinados pelo Comitê Científico e os resultados das avaliações serão comunicados a 15 de setembro de 2018.

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